Críticas

Giselle | Thiago Soares Convida

Em programa de convidados, bailarinas se destacam em ‘Giselle’

“Giselle”, balé de 1841, carrega uma das marcas maiores do romantismo, o destaque feminino. E mesmo num programa “Thiago Soares Convida” é a bailarina a real responsável pelo andamento dessa obra.

Há 15 anos dançando em Londres, Thiago vem aqui bem acompanhado. Na primeira noite, pela goianense Amanda Gomes, bailarina da Ópera de Kazan. Premiada ano passado, é como estrela em ascensão que ela é recebida no papel título de “Giselle”.

Na história, vemos o caçador Hilarion (Mikhail Timaev, também de Kazan) apaixonado por Giselle, que está encantada por Albrecht (Thiago). Mas Albrecht está noivo e conheceu Giselle disfarçado. Hilarion revela a mentira, e Giselle se desespera e morre, reaparecendo no segundo ato como uma Wili.

As Wilis são espíritos femininos que voltam para se vingar, fazendo os homens dançarem até a morte. Seria esse o fim de Albrecht, mas, apaixonada, Giselle intervém para protegê-lo até o amanhecer, quando ela e as Wilis voltam para seus túmulos.

O encontro dos convidados com o corpo de baile da Cia. Brasileira de Ballet chama a atenção para uma tradição de exportação de bailarinos clássicos, que têm poucas oportunidades de trabalho por aqui.

E se há grande interesse em ver aqueles que se destacam lá fora, persiste na obra um desajuste geral, resultado da pouca integração tanto entre as estrelas, quanto das estrelas com esse elenco.

O corpo de baile é bem treinado, mas carece da maturidade dos convidados. No segundo ato, estão em seu melhor: apenas as mulheres em cena, mostram uma precisão melódica, bem encaixada na trilha sonora de Adolphe Adam.

Mesmo maduros, falta familiaridade entre as estrelas, que não tiveram o tempo de se aproximar enquanto parceiros; nem terão: na segunda noite, Giselle é interpretada por Mayara Magri (também do Royal).

O melhor dos dois bailarinos vem quando dançam juntos no segundo ato, um dos poucos momentos que exibem a técnica de Thiago. Mas a cena pertence mesmo a Amanda, que dá peso à coreografia, nos fazendo acreditar não ser algo desse mundo.

Entre todo o talento, se repete de um ciclo desfavorável da nossa dança: despontam estrelas, que são reconhecidas no exterior, e aqui voltam brevemente como convidados, para montagens rápidas, sem o tempo que demandam. Para além do prazer de ver ou rever esses bailarinos, essa “Giselle” nos mostra a importância de repensar as estratégias da dança (sobretudo clássica) no Brasil.