Quem quer estudar dança?

Não é algo completamente naturalizado, mas na minha cabeça eu sempre vi duas formas de estudar dança. É certo que dança se estuda na sala, com o corpo em movimento. Mas (especialmente quando a gente é dado à análise, à história, e à teoria), dança também se estuda assistindo, discutindo, e lendo.

Tem uma briga em certos círculos, se isso seria estudar dança, ou se seria estudar sobre dança. Não ofereço grandes soluções, mas sou há um tempo do grupo que defende uma pluralidade dentre o povo da dança. Não adianta só existirem especialistas em fazer dança. Também têm que existir especialistas em assistir dança, em discutir dança. E essa é a minha coisa.

Com o tempo, se tornou um tanto de missão a preocupação em colocar a dança em reflexão, em discussão. E a eterna solução de quem é dado à pesquisa acaba se replicando: bora fazer grupos de estudos. Eu adoro grupos de estudos! São basicamente o equivalente teórico de arte amadora: as pessoas se juntam porque querem, porque gostam, porque acham isso importante, e porque se sentem bem fazendo. 

Estar em grupo de estudos também inverte um tanto das lógicas mais formais de ensino: é o grupo que move conhecimento conjuntamente, não existe uma expectativa de transmissão de conhecimento consolidado. Existe compartilhamento. Estuda-se junto. Descobre-se junto. Entende-se junto. Apesar e através dos níveis e bagagens distintos.

Em 2021, depois de dar uma aula de Introdução à Apreciação e História de Dança na graduação na USP, me veio uma percepção da importância de continuar as discussões com os alunos, que, vindos na maioria de uma graduação em Artes Cênicas, mas também de alguns outros curso, tinham interesse por dança, mas, como tanta gente no mundo, pouco conhecimento sobre.

Vão-se alguns testes, e a minha proposta pra encontrar e garantir alguma continuidade do projeto foi linkar os grupos de estudos com meu atual projeto de pesquisa de Pós-Doutorado (“Mediação Cultural e Artística em Dança: atravessamentos das fronteiras entre o público e as artes da cena”). Nesse contexto, retomo esse mês as atividades do Grupo de Estudos ‘Dança, Apreciação e Recepção’, que segue em encontros mensais, por enquanto à distância e online, à noite, quase sempre às segundas-feiras.

O formato do grupo parte de debates em torno de obras escolhidas a cada encontro pra serem assistidas por todos os participantes. Esse “todos” mistura gente de muita experiência em dança e gente que está agora descobrindo dança. Gente já formada, com gente em formação, universitária ou técnica, em dança, mas também em qualquer outra área: dança é pra quem dança e também pra quem não dança. O propósito aqui — e eu acho fantástico — é falar sobre dança, discutir dança.

Essa coluna é também um convite. Se você se interessa pela proposta, e a estrutura do grupo é possível pra você, me acha pelas redes e me manda uma mensagem, que eu encaminho o link do grupo do Grupo de Estudos. Recomeçamos os trabalhos dia 22 de agosto e seguimos enquanto tiver gente interessada.

Se o que te interessa são outras propostas e outras estruturas, fica a provocação. Quantos outros grupos de estudos ainda precisam ser formados? Quanta gente existe que topa entrar em cada proposta? Afinal, quem quer estudar dança?