• Críticas
  • 3o sinal
  • Programação
  • Sobre
  • Contato
  • Facebook
  • Instagram
A coluna 3ºsinal é publicada todo domingo nos sites:
Coluna de
31 de dezembro, 2020

O ano que não aconteceu

Compartilhe:

O ano acabando, e a gente olha pra trás: no meio de tudo que não aconteceu, a dança continuou

Quando tudo parou em março, eu estava pronto pra aceitar que a gente olharia pra trás e veria 2020 como o ano que não aconteceu. Um instante de silêncio e luto antecipado, por tudo aquilo que não subiria pro palco, toda a arte que não chegaria à cena, tudo que a gente não poderia assistir.

Realmente, o 2020 que era esperado não aconteceu. O que veio no lugar dele foi uma coisa completamente diferente. Fruto da insistência e da necessidade de continuar, que apareceu em tantos campos da vida, e não menos na dança.

Fazer dança, mas também ver dança, pensar dança e falar de dança mudaram. Diversas pre-concepções foram desafiadas. Uma lista imensa de coisas que “não dá pra fazer de outro jeito” agora são feitas: a necessidade é a mãe das invenções (e da aceitação).

Sem poder sair de casa, me encontrei e escutei gente de vários outros lugares, de tantas outras experiências. O isolamento talvez aumente a receptividade. Mas, mais que isso, as dificuldades de microfonia nas plataformas têm forçado o aprendizado do silêncio. Lugares de fala e lugares de escuta nunca foram tão pronunciados.

Com a dança transmitida e a dança em video passamos a novas possibilidades. A cena digital escapa da capital, e se expande pelo país e pelo mundo. 2020 desafia a curadoria. A forma de produção e circulação empurram alguns aspectos da decisão de acesso. Eu revi obras que nenhum programador colocaria em cena hoje. Eu encontrei e reencontrei companhias de longe que há anos não chegam na minha cidade.

No domínio da hiper-oferta, arriscamos o labirinto de escolhas confusas. Mas são escolhas mais pessoalizadas. Pautadas por duzentas outras questões e limites, mas menos sujeitas ao que uma ou algumas pessoas decidiram que representa a diversidade da dança.

Eu pude ver os amadores, e a importância que a dança tem como prática, como convívio, como experiência sócio-pessoal. Mas eu amei ver os profissionais e o quanto a insistência deles nos mostra que essa gente faz porque gosta mesmo. Dança porque precisa dançar, porque precisa compartilhar o mundo através de dança.

Deles, eu pego a sugestão: vire o ano dançando. Sozinho em casa, com aquela pessoa que tem estado por perto, ou o seu grupinho de enfrentamento pandêmico. Mas não deixa o ano terminar esmorecido, amuado, caído. Comemora a força que a gente tem que ter pra seguir em frente, e dança. Dança, que 2021 precisa de mudança, atrevimento, persistência, luta, e tudo isso carece de muito movimento.

Que esse virada seja gostosa, e 2021 venha cheio de dança e bons ventos. Obrigado pela companhia e pela leitura esse ano todo.

2020, Apresentação, Arte pandêmica, continuidade, História, Isolamento, Retrospectiva
Compartilhe:

Navegação de Post

Tradição
Quem precisa de prêmio?

Colunas relacionadas

Todas as Colunas

Coluna de
30 de julho, 2020

Registrado (e) na memória

Coluna de
18 de novembro, 2020

Dança, arte genealógica

Coluna de
16 de janeiro, 2022

Ruth Rachou, iluminando caminhos

Coluna de
16 de outubro, 2022

Problemas do figurino na dança

© 2025 Outra Dança | por Henrique Rochelle. Todos os direitos reservados.
  • Privacidade

Cookies e privacidade

Utilizamos cookies para melhor a sua experiência em nosso site. Ao prosseguir, estará aceitando nossa Política de Privacidade.