Dança divulgada nas redes
Quando a divulgação não chega em quem poderia se interessar, a dança tem um problema grande
Você tá olhando seu celular pra passar o tempo, por exemplo, na fila do caixa do supermercado. Rolando o feed, vem um anúncio: uma apresentação que parece super interessante. Você se distrai com as compras, com voltar pra casa, e quando se lembra da divulgação, já era: o feed atualizou e você perdeu as informações.
Com o aumento das apresentações online aconteceu também um aumento de divulgação restrita às redes sociais. Parece interessante, intuitivo, um tanto natural — e, mesmo assim, toda semana eu perco alguma coisa porque a situação em que fiquei sabendo não me ajudava a me organizar pra assistir.
Não é muito segredo: divulgações distintas atingem públicos distintos. Mas a restrição atual aos formatos de apresentação precisa significar uma restrição em como essas apresentações são divulgadas?
Estamos prestes a encontrar uma onda de apresentações produzidas a partir dos últimos incentivos e ações emergenciais. Com as semanas passando, cada vez mais eu fico sabendo da programação porque alguém conhece alguém que conhece alguém que trabalha na obra e compartilhou um post.
Cada vez menos a divulgação chega porque alguém se preocupa em comunicar que aqueles artistas têm arte pra mostrar através daquele canal, naquele dia e horário.
A divulgação online é vítima de algoritmos, e eles nem sempre ajudam. Nem sempre fazem a informação chegar em quem quer saber — e eu sei disso porque eu quero saber da programação, e tô sabendo pouco.
É meio antiquado, mas eu me organizo com agenda e calendário. Dá pra usar versões digitais, online, mas continuo precisando marcar as coisas. Reservar aquele momento pra estar ali — mesmo que “ali” seja só na frente do computador.
A versão mais digital que funciona pra mim é a notificação — excessiva e insistente. Me avisando que tem dança essa semana, tem dança hoje, tem dança daqui a duas horas, daqui a meia hora, daqui a cinco minutos, que tem dança acontecendo agora.
Ai, as regras de etiqueta das redes sociais não me ajudam muito. Não gosto do distanciamento impessoal do “você recebeu um convite pra um evento que você gostaria de acompanhar, mas que vai esquecer daqui a 10 minutos, porque essa rede vai lotar seus olhos de outros conteúdos”.
Eu ouço há muito tempo a reclamação de que a dança tem um público muito restrito, feito de gente de dança. Mas se eu que tô tentando acompanhar o máximo de trabalhos perco programação por não ficar sabendo, como é essa situação pro público geral?
A sua rede fala com pessoas que ainda não sabem que se interessam pelo seu trabalho? Afinal, quem você quer que veja a sua dança?
[Ao longo de 2021, os textos publicados na 3ºsinal receberam o apoio da Lei Emergencial Aldir Blanc do município de São Paulo, que viabilizou uma série de ações como a 3ºsinal e a reformulação do site Outra Dança]