Estar junto
Como a gente junta pessoas na vida? E como a gente junta (mais) pessoas nas plateias dos teatros pra ver dança?
Juntar pessoas é sempre uma dificuldade. Seja pra um evento, pra uma ocasião especial, pra uma apresentação, pra uma temporada, pra um grupo de estudos. Com agendas cada vez mais ocupadas, a gente precisa cada vez mais selecionar o que vai conseguir fazer, dentro daquilo que gostaria de fazer. Como se dá o corte?
Essa pergunta se espalha pra dois lados diferentes. Um caminho discute o que junta as pessoas, enquanto o outro discute como as pessoas escolhem onde estão. Um caminho lida com o interesse, com o potencial. O outro lida com a possibilidade, e a concretude.
O ser humano é social, e por isso as atividades em grupo tem uma coisa de natural. Falando de dança, essa dinâmica de grupo varia um tanto. É bem diferente escolher um grupo de pessoas com quem você quer fazer uma aula semanal, e você ir pra um teatro e estar em um grupo, formado só ali, naquela ocasião.
Todo agrupamento muda a experiência dos indivíduos. Mas atividades contínuas parece que têm agrupamentos mais determinantes. Se a discussão com aquela pessoa é um prazer, tem mais chances de eu me interessar em voltar ali, em retomar essa discussão. O contrário também é verdade: se o encontro se torna um desprazer, as chances de eu não voltar aumentam muito.
Agora, e aqueles dias em que a gente não tá com nenhuma bateria social? Assistir dança até pode ser uma atividade solitária, mas nunca é uma atividade sozinha. De onde vem a disposição pra sair de casa e socializar? No meu caso, que às vezes sou estranhamente resguardado, a força só vem do sentimento de obrigação. Do “isso é importante pra mim, eu preciso ver isso”. Mas por vezes não sobra uma forcinha nem pra dar um oi, ou bater um papo depois do espetáculo.
Por mais que estar em grupo seja natural, não é algo que aconteça sem esforço. Negociações e arranjos constantes determinam as possibilidades de funcionamento do estar junto. Nem sempre a gente tá disposto a negociar (e tudo bem).
Se isso fala de como alguém decide ir ou não pra uma situação de grupo, ainda deixa em aberto aquele outro lado, da atração. Quais são as situações em grupo que de fato te chamam, te interessam, te convidam, te seduzem à participação?
Tem uma questão de tema, de assunto, de tipo de trabalho e de interesse que certamente nos movem. Mas não basta. Na hora de decidir o que assistir, por exemplo, entram em jogo questões de espaço, de distância, de caminhos, de acessos. Às vezes, no entanto, o que mais pesa são mesmo as pessoas. Quem vai estar lá: seja na plateia ou no palco, que me move a estar lá junto.
O “zero vontades de sair e lidar com pessoas” se mistura com o “ai que vontade de encontrar essas pessoas”, e, na vida, escorrega rapidinho praquilo que a minha geração aperfeiçoou: o eterno sentimento do “vamos marcar”. Não falta vontade, não falta interesse, mas às vezes falta mesmo disposição. Como atravessa isso, como a gente consegue de fato fazer o que quer fazer — é um mistério que me interessa um tanto.
É curioso, e pode parecer até meio deslocado aqui. Mas na minha cabeça, a resposta pra essas perguntas tá num lugar muito próximo da resposta pra outras, muito mais obviamente ligadas à nossa área: como a gente junta mais pessoas nas plateias de dança? Nas aulas de dança? Nos cursos de dança? Nos grupos de dança? Nas conversas sobre dança?