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Coluna de
12 de dezembro, 2021

Paracuru, cidade de dança

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Próxima de Fortaleza, Paracuru é uma cidade pequena, com um projeto de dança enorme e exemplar

Paracuru é uma improvável cidade de dança, a uma hora e meia de Fortaleza. Da sua história impressionante, do vilarejo de pescadores engolido pelas dunas da Praia das Almas, ao encontro de uma cidade de 30mil habitantes, que tem uma escola e uma companhia de dança, de trabalho e repertórios surpreendentes.

O Ceará é um caso todo à parte no pensamento em dança. A imensa Bienal Internacional de Dança (que na verdade é anual), a experiência do Colégio de Dança do Ceará, e a exemplaridade da escola e da companhia de Paracuru intrigam sobre esse lugar onde a dança brotou e floresceu com tanto gosto, chegando à boca do povo, ao corpo do povo, e até ao rádio do povo.

O espanto com a companhia de Paracuru tem a ver com seu repertório, que, ainda mais improvável, reúne coreografias de Henrique Rodovalho, Luiz Fernando Bongiovanni, Jorge Garcia, Cláudio Bernando, Fabrice Ramalingon e até Dominique Bagouet.

Fundadas em 2000 e 2002 sob direção do grande bailarino e professor Flávio Sampaio, a companhia e a escola de Paracuru surgiram do desejo de um grupo de dez bailarinos que o procuraram para dançar. Duas décadas depois, com 200 alunos na escola, e trabalho contínuo de formação, a cidade lida com a dança de um jeito único.

7% da população já passou pela escola de dança. Em Paracuru, a dança é uma opção real pras pessoas, o que a gente vê no palco montado na praça da Matriz, onde esse ano vimos o Balé da Cidade de São Paulo, além das apresentações da companhia de Paracuru, dentro da programação da Bienal.

Ter dança como um projeto contínuo de formação abre a possibilidade do encontro com essa arte. Aquele drama constante, de todo canto do mundo, da falta de exposição das pessoas à dança, aqui parece que não existe. A dança acontece ali, na praça, logo depois da missa. E as pessoas vêm assistir. A dança acontece ali, na escola, transformada em centro cultural, e o povo da dança é recebido com gosto.

Não que Paracuru receba alguém sem gosto. Extremamente hospitaleira, a cidade se entrega e se convida para seus hóspedes. Da mesma forma, em Paracuru a dança se entrega e se convida para seus cidadãos.

O efeito é realmente improvável. Diríamos impossível, se Paracuru não estivesse aqui pra mostrar. A sensação é a de experimentar os efeitos lindos de um projeto contínuo. A qualidade do elenco e das produções da companhia de dança é a qualidade de uma gente que cresceu entre dança. Um projeto luxuoso e admirável.

Ele lida, como todos os outros projetos culturais que conhecemos, com a insegurança dos investimentos, as dificuldades da continuidade, e a dependência da boa disposição política. Mas ele já faz parte da cidade, que vive dança enquanto cidadania e arte.

Conversando com a gente daqui, eles se intrigam com o deslumbre de nós que somos de fora. Querem saber o que existe de tão especial, e que outros lugares também fazem isso. De dentro, nem sempre dá pra ver que isso é único. Paracuru é um fenômeno de dança, a ser estudado, mas também a ser cuidado. É um projeto de força de vontade de uma cidade que um dia decidiu que mais gente tem direito à dança. Uma cidade de dança, exemplo em muitos níveis, que justifica seus gentis apelidos, e o verdadeiro encanto que temos com o que fazem por aqui.

[Ao longo de 2021, os textos publicados na 3ºsinal receberam o apoio da Lei Emergencial Aldir Blanc do município de São Paulo, que viabilizou uma série de ações como a 3ºsinal e a reformulação do site Outra Dança]

Assistir, Bienal Internacional de Dança do Ceará, Paracuru Companhia de Dança, Parcuru, Público
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